segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Como economizar na sua viagem ao Japão

O Japão não é o pais mais barato para se viajar, o iene não é barato e o custo das coisas do Japão pode chegar a patamares não imagináveis em outros países, como no Brasil. Porém, muita gente economiza durante muito tempo para poder viajar e curtir esse país que é um dos mais interessantes e divertidos para turistas.
Neste artigo eu preparei algumas dicas para quem quer aproveitar bastante em uma viagem ao Japão e economizar onde for possível.

Em primeiro lugar é importante planejar sua viagem com o máximo de detalhes possíveis.
Obviamente, quando mais longa a viagem mais dinheiro vai gastar.
Alguns lugares como Tokyo e Osaka são mais caros que outros.
Passages no inverno tendem a ser mais baratas, porém você vai ter que investir um pouco em roupas de inverno, já que o frio que faz no Japão é mais intenso que no Brasil.
Primavera e Outono são as épocas mais bonitas, porém as passagens e os hotéis ficam mais caros.
Verão talvez seja uma boa opção, porém o clima não é nem um pouco amigável.


Transporte
Antes de ir ao Japão, é bom pensar se vale a pena comprar o JR pass ou não.
Basicamente o JR Pass é um passe que pode ser utilizado em vários trens da companhia nacional de trens do Japão (Japan Railways) incluindo algumas linhas de trem bala, e alguns outros meios de transporte (lista).
É necessário “ativar” o JR pass em uma estação especial para começar a utilizá-lo, uma vez ativado você pode utilizar a vontade até que a validade do seu passe expire.
A matemática é simples, se você gastaria mais com trem bala do que com o JR pass, vale a pena o JR Pass(preços shinkansen). Por exemplo, uma viagem de Tokyo a Osaka ou Kyoto, e depois ida e volta de Osaka até Hiroshima já passa o preço do JR pass de 7 dias.

Para chegar do aeroporto até o centro da cidade existem várias formas, desde os trens expressos, que são o método mais comum até utilizar trem normal.
Dos Aeroportos de Narita e Haneda existem ônibus especiais mais baratos (site)
Do Aeroporto de Kansai para Osaka ou Kyoto é possível ir de trem (maps) ou ônibus.

Dentro das cidades convém utilizar os sistemas de transporte público como trens, metrô e ônibus.
Em cidades grandes como Tokyo, vale a pena checar onde ficam as atrações turísticas e visitar aquelas que ficam próximas umas das outras, assim você pode andar de um lugar para o outro, aproveitando a cidade e economizando.

Se houver opção de passe diário de ônibus, como em Kyoto, vale a pena comprar.

Para se deslocar em grandes distâncias, como Tokyo – Osaka, Osaka – Hiroshima, também vale a pena pesquisar ônibus noturno (sites). Não é a maneira mais confortável de viajar, mas é a mais barata e ainda por cima você economiza uma noite de hospedagem.

Vôos dentro do Japão podem ser bastante baratos, muitas vezes sendo mais baratos e convenientes que trem bala. Para quem pensa em visitar Hokaido e/ou Okinawa vale a pena dar uma olhada nos preços das companhias locais (links: Peach , Jetstar, Vanilla airlines).

Hospedagem
Em grandes cidades como Tokyo, Osaka e Nagoya o ideal é sempre estar próximo a alguma estação de trem.
Se você possui o JR pass, na região de Kansai é possível ficar uma cidade como Osaka e visitar Kyoto e Kobe de trem bala, além de Nara com outros trens da JR.
Em cidades menos e no interior é bom pesquisar antes para ver como é o transporte na região.

A dica básica aqui é pesquisar todas as opções possíveis.
Comece pelo booking , depois tente hostel world, Airbnb, e assim por diante.



Comida

Vale a pena pesquisar bastante em sites como tripadvisor e tabelog sobre restaurantes no Japão. Muitas vezes os preços variam muito de almoço para jantar e até dependendo do dia da semana.
Se você não é do tipo que liga muito para a comida local, ou quer economizar em alguns dias, é muito recomendável comprar comida em supermercado.
Aliás, a partir de 8 da noite é possível encontrar alimentos com descontos nos supermercados. Em geral por estarem perto da data/horário de vencimento os preços caem drasticamente.
Para encontrá-los procure por etiquetas escrito 半額(“hangaku” ou metade do preço) ou (“wari”, desconto).
Outra opção barata e local são os “fast food” japoneses, como yoshinoya(よしのや), nakau(なか卯) e matsuya(松屋).
Café da manhã em restaurantes ou cafés costuma ser bastante caro, comprar algo em uma loja de conveniência ou supermercado vale muito mais a pena.

Lamen costuma ser uma refeição bastante completa e com preço acessível.



Turismo

Claro que a maior parte dos lugares famosos do Japão cobram entrada, porém é sim possível encontrar lugares muito interessantes que podem ser visitados gratuitamente.

Em Tokyo, de longe a cidade mais cara do Japão, é possível visitar o parque Yoyogi, o Gundam gigante de Odaiba e o prédiodo governo metropolitano gratuitamente.
Você não precisa pagar nada para visitar este robô gigante.


Em Kyoto, capital turística do Japão, existem lugares famosos como o Rio Kamo, o bairro de Gion, Yasaka Jinja, Nanzeji e Caminho do Filósofo que também são totalmente gratuítos. 

Algumas galerias e museus possuem preços diferentes de acordo com o dia. Consulte sempre o website do lugar antes de visitar!
Nanzenji é um dos templos mais bonitos de Kyoto e é possível visitá-lo sem gastar um tostão.


Compras

Também é possível economizar no Japão na hora das compras!
A primeira dica é pesquisar preços online, a amazon japonesa e a Rakuten possuem preços bastante amigáveis para várias coisas, de eletrônicos, roupas e até mesmo comida!
Não é necessário ter cartão de crédito nem endereço fixo no Japão. É possível pagar em boleto em uma loja de conveniência e também pedir para que a entrega seja feita em alguma dessas lojas.

Caso você seja do tipo de pessoa que prefere ver as coisas antes de comprar, tente as lojas de 100 yen e também uma rede chamada Book off. Apesar do nome, a Book off não vende apenas livros, mas também eletrônicos e roupas.

Comparado ao Brasil, roupas no Japão possuem preço bastante acessível, em especial lojas grandes como Uniqlo, GU e H&M.




Possui mais alguma dica? Escreva nos comentários!

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Invertendo o mito da corrupção

Muita gente comenta, com olhares de admiração, o quão seguro o Japão é, o quão honesto e trabalhador o povo Japonês é e o quanto o Japão deu certo e é rico por causa desses atributos da população. É verdade que o povo Japonês é honesto e trabalhador, mas é o único povo honesto e trabalhador, e não é exatamente por isso que o país é rico.

Há também pessoas que possuem o mesmo tipo de admiração com os Alemães, Suécos, Ingleses e assim por diante.

Quando se fala em países mais pobres, como o Brasil, Bolivia, India, Russia, etc. fala-se muito sobre violência, desonestidade, pobreza e quando se pergunta a causa, fala-se muito em corrupção.

É interessante que quando se vive fora do Brasil percebemos que as coisas não são bem assim. Mas é bem difícil explicar e discutir sem ser especialista nessas questões.

Por isso, hoje vou postar aqui um texto que achei muito interessante de um antropologo chamado Jason Hickel, traduzido por um grande amigo meu Chamado Bruno do Carmo.

O original você pode conferir aqui, e a postagem original da tradução aqui.

Invertendo o mito da corrupção
A corrupção não é, de longe, o principal fator que perpetua a pobreza nos países do Hemisfério Sul

Traduzido por: Bruno Bortoloto do Carmo.


A Transparência Internacional publicou recentemente seu último e anual (ref. 2013) Índice de Percepção de Corrupção (Corruption Perceptions Index — CPI), disposto em um atraente mapa-múndi no qual as nações menos corruptas aparecem em um amarelo alegre e jovial e as nações mais corruptas em um marcante e estigmatizante vermelho. Esse Índice define a corrupção como “o abuso do poder público para fins privados”, e utiliza dados de 12 instituições diferentes incluindo o Banco Mundial, a Freedom House e o Fórum Econômico Mundial.
Quando vi o mapa pela primeira vez fiquei preso ao fato que a maior parte dos amarelos eram, coincidentemente, países ricos do Ocidente, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido, enquanto os vermelhos cobriam quase todo Hemisfério Sul, contando com países como Sudão do Sul, Afeganistão e Somália marcados com um vermelho especialmente mais escuro.
Essa divisão geográfica se encaixa perfeitamente naquele ponto de vista mais tradicional, na qual a corrupção seria um flagelo de países subdesenvolvidos (sugerindo imagens clichês de ditadores na África ou subornos na Índia). Mas esse raciocínio está correto?
Muitas organizações internacionais de desenvolvimento alegam que a incessante pobreza no Hemisfério Sul seria causada em grande parte pela corrupção governos locais e seus funcionários. Em 2003 essas questões foram levadas à Convenção das Nações Unidas contra Corrupção afirmando que, por mais que a corrupção existisse em todos os países, esse “fenômeno maligno” era “mais destrutivo” no hemisfério sul, onde era um “elemento chave no mau desempenho econômico e um obstáculo maior para o alívio da pobreza e desenvolvimento”.
Existe apenas um problema nessa teoria: isso simplesmente não é verdade.

Corrupção, à moda das superpotências

De acordo com o Banco Mundial, corrupção na forma de subornos e roubos por agentes do governo, o principal alvo da Convenção das Nações Unidas, custa, ao ano, a países de subdesenvolvidos algo em torno de 20 a 40 bilhões de dólares. Mas é uma proporção extremamente pequena — algo em torno de 3 por cento — em relação ao fluxo ilícito total que vaza dos cofres públicos. Por outro lado, companhias multinacionais roubam de países subdesenvolvidos mais de 900 bilhões a cada ano por meio de evasão de impostos e outras práticas ilícitas.
Essa enorme evasão de divisas é facilitada por um sistema financeiro sombrio que inclui paraísos fiscais, empresas fantasmas, contas anônimas e fundações falsas, tendo a cidade de Londres como coração desse sistema. Mais de 30 por cento dos investimentos globais estrangeiros são colocados em paraísos fiscais que hoje, como um todo, ocultam um sexto do total das riquezas privadas globais.
Essa massiva — e, de fato, fundamental — causa da pobreza do mundo subdesenvolvido, não aparece na definição tradicional de corrupção e está ausente na Convenção das Nações Unidas; quando muito, aparece raramente nos programas das organizações internacionais de desenvolvimento.
Sendo cidade de Londres o centro dessa global rede de paraísos fiscais, como o Reino Unido aparece com um Índice de Corrupção limpo?
A questão que mais perturba é a de uma cidade imune a leis de diversas nações democráticas e livre de um controle parlamentar. Como resultado desse status especial, a cidade de Londres mantém uma série de tradições plutocráticas. Pegue o processo eleitoral, por exemplo: mais de 70 por cento dos votos durante as eleições municipais vão não para cidadãos, mas para corporações — em sua maioria bancos e empresas do capital financeiro. Quanto maior a corporação, mais votos consegue. Isso leva o corporativismo personalista estadunidense a um outro nível.
Para ser justo, esse tipo de corrupção não está totalmente deslocada em um país que uma família real nos moldes feudais detém 120.000 hectares de terras por todo país e suga todos os anos em torno de 65,7 milhões de dólares de fundos públicos. E ainda tem o parlamento, no qual a Casa dos Lordes é composta não por eleição, mas por nomeações, com 92 assentos hereditários para famílias da aristocracia, 26 para líderes do maior setor religioso do país, e diversos outros colocados à venda para multimilionários.
A corrupção nos Estados Unidos é somente ligeiramente menos ruidosa. Enquanto os assentos do congresso não estão totalmente dispostos à venda, o estabelecimento da Citzens United vs FEC (Cidadãos Unidos contra a Comissão de Eleições Federais) permite que corporações gastem ilimitadas somas de dinheiro em campanhas políticas para garantir que seus candidatos preferidos sejam eleitos, prática justificada sob a bandeira Orwelliana do “liberdade de expressão”.

O fator da pobreza

Para a Convenção das Nações Unidas é ponto pacífico que a pobreza em países subdesenvolvidos é causada pela corrupção. Mas a corrupção que estamos mais preocupados tem suas raízes em países que estão coloridos em amarelo no mapa do Índice de Corrupção, não em vermelho.
O sistema de paraísos fiscais não é o único culpado. Nós sabemos que a crise financeira global de 2008 foi acelerada por uma corrupção sistêmica entre funcionários públicos nos Estados Unidos que estavam intimamente ligadosaos interesses de empresas da Wall Street. Além do deslocamento de trilhões de dólares de cofres públicos para bolsos particulares por meio de resgates, a crise limpou uma enorme fatia da economia global e teve efeito arrasador em países subdesenvolvidos quando as demandas por exportação secaram, causando massivas ondas de desemprego.
Uma história parecida pode ser contada a partir do escândalo da Libor (London Interbank Offered Rate), quando grandes bancos de Londres manipularam as taxas de juros e sugaram em torno de 100 bilhões de dólares de pessoas em todo território da Grã Bretanha. Poderiam esses escândalos serem definidos como qualquer coisa que não o mau uso do poder público para benefícios particulares? O alcance global desse tipo de corrupção faz o suborno mesquinho e o roubo em países subdesenvolvidos parecer algo provinciano, quando posto em comparação.
Mas isso é apenas a ponta do iceberg. Se nós realmente queremos entender como a corrupção leva países subdesenvolvidos à pobreza, nós precisamos começar olhando as instituições que controlam a economia global, como o FMI, o Banco Mundial e a Organização Mundial de Comércio.
Durante os anos 1980 e 1990, as políticas que essas instituições impingiram no Hemisfério Sul, seguindo o Consenso de Washington, levaram os índices de crescimento de renda per capita a um colapso de quase 50 por cento. O economista Robert Pollin estimou que durante esse período países subdesenvolvidos perderam em torno de 480 bilhões de dólares por ano em PIB potencial. Seria difícil superestimar a devastação que esses números representam às populações desses países. Contudo, corporações ocidentais tem sido tremendamente beneficiadas por esse processo, ganhando acesso a novos mercados, mão de obra barata e matérias primas, além de novos polos para fuga de capitais.
Essas instituições internacionais mascaram-se como mecanismos para governança pública, mas, na verdade, são profundamente antidemocráticas; é por isso que conseguem impor políticas que tão diretamente violam o interesse público. Os poderes de voto do FMI e do Banco Mundial são divididos para que países subdesenvolvidos — que em são vasta maioria da população mundial — juntos tenham algo menos que 50 por cento dos votos, enquanto o Tesouro dos Estados Unidos detém, de fato, o poder de veto. Os líderes dessas instituições não são eleitos, mas nomeados pelos Estados Unidos e Europa, com diversos chefes militares e executivos da Wall Street entre eles.
Joseph Stiglitz, antigo economista chefe do Banco Mundial, fez denúncias públicas dessas instituições como sendo as menos transparentes que ele já se defrontou. A falta de prestação de contas dessas instituições também é chocante, enquanto, ao mesmo tempo, usufruem de especial status de “imunidade de jurisdição” que as protegem contra prováveis processos públicos quando suas políticas falham, independente do mal que causam.

Transferindo a culpa

Se essas formas de governo ocorressem em qualquer nação do Hemisfério Sul, o Ocidente bradaria por corrupção. Contudo, corrupção é normalizada nos centros de comando da economia global, perpetuando a pobreza em países subdesenvolvidos do mundo enquanto a Transparência Internacional direciona sua atenção a qualquer outro lugar.
Mesmo que decidíssemos focar em corrupções localizadas em países subdesenvolvidos, teríamos que aceitar que isso não existe em um vácuo geopolítico. Muitos dos famosos ditadores desses países — como Augusto Pinochet, Mobutu Sese Seko e Hosni Mubarak — foram apoiados por um fluxo constante de financiamentos do Ocidente. Hoje, não são poucos os regimes corruptos que foram instalados ou fortalecidos pelos Estados Unidos, entre eles o Afeganistão, o Sudão do Sul, e os senhores da guerra da Somália — três dos Estados pintados em vermelho escuro no mapa do Índice de Corrupção.
Isso levanta uma questão interessante: quem é mais corrupto, o ditador mesquinho ou a superpotência que o instala? Infelizmente, a Convenção das Nações Unidas convenientemente ignora essas dinâmicas, e o mapa do Índice de Corrupção nos leva a acreditar, incorretamente, que a corrupção de cada país é puramente limitada à suas fronteiras nacionais.
A corrupção é, com certeza, um dos principais motores da pobreza. Mas se quisermos atacar o problema com seriedade, o Índice de Corrupção não será de muita ajuda. A maior causa da pobreza em países subdesenvolvidos não se encontra em subornos ou roubos, mas na corrupção que é endêmica a um sistema de governo global, as redes de paraísos fiscais, e os setores bancários de Nova York e Londres. Está na hora desmistificar a corrupção em seu coração e começar a demandar transparência onde é realmente importante.
Sobre o autor: Jason Hickel é Doutor em Antropologia pela Universidade de Virgínia. O presente texto foi uma conferência dada na London School of Economics, e publicado originalmente no site do aljazeera em 01 fev. 2014. Twitter: @jasonhickel

sábado, 22 de abril de 2017

O que fazer em Kyoto em um dia?


Muita gente e pergunta o que fazer em Kyoto, roteiros e coisas do tipo. Acabei organizando o que eu costumo recomendar para quem visita Kyoto.

Alguns pontos da cidade são muito famosos e praticamente todo turista quer visitar. Tentei colocar o maior número possível de lugares neste guia, em uma ordem que faça sentido.

A ordem foi pensada para alguém que parte da estação de Kyoto ou de algum lugar no leste da cidade. Caso você esteja partindo do Oeste da cidade a ordem oposta talvez faça mais sentido.

Como se deslocar pela cidade
Existem trens e metrô em Kyoto, porém as linhas não são tão desenvolvidas como em Tokyo ou Osaka. Tavez seja interessante andar de trem para chegar nos poucos lugares em que há uma estação nos arredores, porém a melhor opção em Kyoto é se deslocar de ônibus, pelo preço e disponibilidade.

O passe diário de ônibus (一日乗車券 ichinichijoushaken) custa 500 ienes, pode ser adquirido nas estações ou mesmo dentro do ônibus ( basta pedir para o motorista) e com ele é possível tomar quantos ônibus forem necessários e chegar a praticamente qualquer um dos lugares famosos.
Ônibus de Kyoto




Onde comer

Existem muitas atividades possíveis em Kyoto, muitos templos, santuários e outras atividades culturais. Certamente não dá para isitar tudo em um dia ou mesmo em uma semana. É preciso correr de um lugar para o outro e economizar tempo.

Por causa disso seria mais aconselhável simplesmente comprar comida em um supermercado ou loja de conveniência e comer em algum parque, ou ao longo do rio, não?

Porém, Kyoto é uma cidade turística e universitária, e por consequencia disso possui muitos restaurantes espalhados pela cidade, com os mais diversos tipos de culinária.

Na minha singela opinião, o ideal é comer algo rápido no café da manhã e almoço, e ir para algum restaurante mais interessante no Jantar. Mas isso depende de você.

Se você quer algo específico recomendo consultar a página de restaurantes do trip advisor ( link aqui), lá você consegue várias informações sobre localização de restaurantes e reviews. Porém não se guie pelo ranking de restautantes, pois é bastante enviesado.

Dois tipos de culinária se destacam em Kyoto, "obanzai" que é um tipo de culinária com muitas conservas e cozidos, você pode conferir uma lista de restaurantes neste link; o outro tipo de culinária que se destaca é o de "kyo yasai" que é culinária feita com vegetais que só existem em Kyoto, eu recomendo um restaurante chamado Isomatsu (link aqui), e na mesma rua existem outros restaurantes do tipo.

Se você é vegan/vegetariano neste link há uma lista de bons restaurantes.

Outro restaurante famoso em Kyoto é o "Fire ramen", isso mesmo, macarrão tipo lamen com fogo. Mais informações neste link.

Por falar em lamen, existe uma rede de restaurantes chamada tenkaippin (天下一品) que é altamente recomendável. Além disso, no décimo andar do prédio da estação de Kyoto existem vários restaurantes de lamen. Recomendo todos.
Obanzai Ryori


Roteiro

Caso você tenha apenas um dia para conhecer Kyoto,e é sua primeira vez na cidade, eu recomendo este roteiro. Dá para ver os templos e lugares mais famosos e aproveitar bem a cidade, mas como o tempo é curto, é preciso correr um pouco e não enrolar em nenhum lugar. 

Comece o dia lá pelas 9 da manhã visitando o templo Kyomizu dera, um dos templos mais famosos da cidade. A ladeira que leva ao templo é cheia de lojas de lembrancinhas e doces típicos de Kyoto. Além do templo em si, existe também um pequeno santuário chamado Jishu que é bastante famoso.

Kyomizu dera durante o pôr do sol.


Após terminar a visita, vá até o Santuário yasaka, passando por dentro do bairro, assim você pode aproveitar a atmosfera de Japão tradicional. Além disso há também um pequeno parque chamado Maruyama koen. Mapa neste link

Saindo pela entrada principal do Santuário yasaka você estará na avenida Shijo, parte principal do tradicional bairro de Gion. Daí vale a pena explorar um pouco as lojas, restaurantes e ruas.
Seguindo a avenida por cerca de dez minutos você chega no Rio Kamo, onde é possível sentar na margem, relaxar um pouco e comer um lanche ou tomar um café.

Se tudo correr bem, você deve terminar isso tudo antes das duas da tarde. Agora é hora de conhecer o outro lado da cidade.

Vá para o templo dourado (kinkakuji 金閣寺), aqui um mapa de como ir.

O templo dourado é o templo mais famoso de Kyoto, talvez do Japão. É todo folheado a ouro e é muito bonito.

Kinkakuji


Após a visita, vá para o templo Ryoanji (竜安寺). A característica mais famosa deste templo é o seu jardim de pedras. Mapa de como chegar aqui

E assim termina o dia de visitas a templos em Kyoto, vale a pena ir a um bom restaurante depois de todos esses templos.

domingo, 15 de janeiro de 2017

É possível aprender Japonês (ou outros idiomas) com a internet?

Nos dias de hoje são cada vez mais comuns as pessoas que falam mais de um idioma. Bilíngues têm mais chances no mercado de trabalho, facilidade ao viajar, acesso a culturas distintas e até uma série de benefícios cerebrais (alguns aqui e aqui).

Em geral aqueles que falam fluentemente um segundo idioma (alguns até mais de dois) aprenderam porque moraram em outro país ou sua família(ou parte dela) vem de outro país. Mas e aqueles que não tiveram a oportunidade de conviver diretamente com uma cultura distinta e querem aprender um novo idioma?

O mais comum é que essas pessoas passem a frequentar uma escola de idiomas. Mas na maioria das vezes isso simplesmente não funciona. São muito comuns os casos de pessoas que frequentam cursos de Inglês ou Japonês por anos a fio e mesmo assim não conseguem manter uma conversa com um falante nativo, não conseguem assistir um filme sem legenda ou sequer fazer uma reserva em um restaurante por telefone.

Muitos culpam as escolas de idiomas, o que é uma grande injustiça, afinal é humanamente impossível aprender um idioma com quatro horas de aula por semana. É preciso muito mais que isso.

Basta pensar em como aprendemos nosso idioma, ou como bilíngues aprendem sua segunda língua. É um processo de contato contínuo, todos os dias, a maior parte do tempo.
Desde pequeno sua família fala com você em Português, seus vizinhos, amigos, funcionários de lojas, restaurantes, supermercados,etc. todos falam Português com você.
Programas em Português passam na televisão e no rádio, as revistas e livros na estante estão em Português, seu computador e celular também provavelmente estão em Português.
Tudo isso faz com que você se acostume mais e mais com o idioma, e que se sinta confortável com o idioma.
Obviamente em outro país tudo isso seria em outro idioma.

Porém viver em outro país não é algo tão simples, muito menos barato. O truque então é forjar um ambiente artificial de imersão, e é ai que entra a internet


A internet tem mudado a forma com que muitas coisas são feitas, desde simples cartas que foram substituidas por e-mails, até processos burocráticos e bancos de dados imensos que já não existem mais em papel. Além disso muito da economia atual e comunicação depende quase inteiramente da internet. A educação também tem mudado muito com a internet - instituições de ensino oferecem cursos online, palestras são gravadas e disponibilizadas na rede, livros são digitalizados, etc.

Criar um ambiente artificial de imersão é simples, basta mudar tudo que for possível que você faz em Português para Japonês ou Inglês (ou o idioma que quiser). TV e rádio em Japonês, livros em japonês, mangá em japonês, filmes e séries em Japonês (com legenda em Japonês ou sem legenda), podcasts em Japonês, e assim por diante.
O importante é fazer o idioma parte da sua vida diária, quanto maior o tempo de exposição melhor.

Existe um ponto essencial para aprender um idioma desta forma, é necessário que o conteúdo esteja em um nível acessível ao aprendiz, um pouco além do conteúdo já dominado. Assim o aprendiz aumenta seu vocabulário naturalmente apenas consumindo mídia estrangeira (para uma explicação mais complexa recomendo ler a teoria de Stephen Krashen sobre aquisição de língua aqui).

Stephen Krashen, sua teoria ajudou muitas pessoas a se tornarem poliglotas


A teoria de Krashen também explica outro ponto importante - input (ouvir e ler) é essencial para o desenvolvimento linguístico; output (falar e escrever) não é essencial, mas sim um produto da aquisição. Ou seja, quanto mais você ouve e lê, melhor vai ser sua capacidade de flar e escrever.
Este ponto é contestado levemente por alguns poliglotas, mas ainda assim todos consideram input muito mais importante que output. Steve Kaufmann, poliglota do Lingq (site que eu recomendo muito) comenta em um de seus vídeos que 90% da aprendizagem de idiomas é input, e 10% output/prática. Alguns famosos professores de idiomas do Brasil também são entusiastas como Luiz Passari e Mairo Vergalha.

Não adianta assistir anime em Japonês o dia todo sem entender nada que você não vai aprender nada. Você precisa consumir conteúdos que estejam de acordo com seu nível, pouco a pouco, até chegar em um nível em que consiga entender qualquer tipo de material.

Assistir anime pode impulsionar seu aprendizado de Japonês (fonte da imagem)


Até chegar em um nível avançado é necessário estudar algo mais simples, como material didático feito para estrangeiros e livros infantis. Você pode começar mudando seu celular para Japonês e aprendendo as palavras de cada menu.


Mas e os cursos presenciais?
Cursos presenciais podem ser muito bons para adquirir uma base no idioma, conhecer outras pessoas que também admiram culturas diferentes e/ou têm interesse em aprender, tirar dúvidas com um professor, ajudar a manter uma rotina de estudos, e obviamente para praticar o idioma.
Mas não adianta jogar toda a responsabilidade do seu aprendizado em um curso, é necessário assumir a responsabilidade e se esforçar para aprender.


Para saber mais:




https://www.facebook.com/pagina.dekyoto/

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Psicologia no Japão parte II - Situação atual e temas específicos

Este post é continuação do post Psicologia no Japão - Parte I - Um pouco de história, clique aqui para ler.

A Psicologia no Japão, assim como a Psicologia no Brasil ou em outros países é bastante diversa. Assuntos diversos são estudados em Universidades desde Okinawa até Hokaido. Apesar disso, pode-se dizer que algumas tendências prevalecem no Japão e alguns assuntos tendem a ser mais estudos e alguns métodos a ser mais utilizados.



Para entender como é a Psicologia no Japão é absolutamente necessário lembrar que após o termino da segunda guerra mundial, o Japão foi ocupado pelos EUA, sofreu grandes modificações internas e até hoje os EUA são o país que mais influencia o Japão. Por causa disso muitas instituições, como o governo e as Universidades foram reestruturadas seguindo um modelo mais americanizado. Ou seja, a Psicologia, como uma disciplina que depende das universidades para ser estudada, pesquisada e ensinada, segue um modelo fortemente influenciado pelos EUA.

A começar pelo método, seja na Psicologia Clínica ou Psicologia Social, ao contrário do que acontece no Brasil onde estudos qualitativos são comuns, a maioria dos estudos em Psicologia no Japão são quantitativos e apoiam-se fortemente em análises estatísticas. Além disso, seguindo as novas tendências mundiais, muitos estudos são conduzidos utilizando tecnologias atuais importadas de outras áreas. Modelos matemáticos feitos com programação, análise de big data, técnicas de estudo comuns na neurologia como eletroencefalografia, análises de DNA, interação entre humanos e máquinas, etc.

Se bem me recordo e se minhas recentes buscas no google estão certas, a Psicologia no Brasil  tem a Filosofia como base, e é fortemente alinhada com questões sociais. No Japão, a Psicologia tem base mais forte na Biologia e muitos estudos giram em torno de processos comportamentais básicos como o processo de atenção, aprendizagem, memória, orientação espacial, formação de classes cognitivas, estereótipos, etc. 
Apesar disso, assim como no Brasil, existem estudos sobre questões sociais locais específicas, listamos algumas delas:

Hikikomori: O ministério da saúde, trabalho e bem estar do Japão define hikikomori como pessoas que se recusam a sair de casa e se isolam da sociedade por um periodo superior a seis meses. A maioria são homens por volta dos 20 anos que tem dificuldades em se adaptar à sociedade Japonesa. 
Atualmente não há um consenso a respeito do que torna uma pessoa hikikomori. No começo era comum que relacionassem hikikomori com disturbios psíquicos, mas há uma tendência recente a considerarem as este fenômeno como tendo origems socio-culturais e ter relações com as influências da globalização na sociedade Japonesa.

Globalização: Valores ocidentais têm sido importados para o Japão e mudanças estruturais têm ocorrido no páis, costumes e tradições estão sendo modificadas. Isso tem mudado a maneira com que as pessoas interagem com a sociedade, consequentemente provocando mudanças em suas psiquês. Muitos psicológos têm se dedicado a invertigar como estas mudanças estão acontecendo.

Envelhecimento populacional: O Japão é o país com a maior proporção de cidadãos idosos do mundo. E essa proporção tende a aumentar nos anos seguintes, o que traz diversas consequências para a sociedade, economia, cultura,etc. Psicólogos de diversas sub-áreas têm se dedicado a estudar desde como isso influencia as interações 

Apesar de diferente do que acontece em outros países, a Psicologia no Japão segue tendências mundiais sem deixar de atentar para o contexto específico do Japão. Claro que um simples post de blog não é suficiente para falar de todos os aspectos específicos da Psicologia Japonesa, mas espero que possam ter uma ideia de como as coisas funcionam do outro lado do mundo.

Recomendo visitar os websites das associações Japonesas de Psicologia para conhecer mais a fundo os tipos de pesquisa que se faz no Japão em cada sub-área da Psicologia.

The Japanese Psychological Association

The Japanese Society of Social Psychology

Japan Society of Developmental Psychology

Outras associações

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O Japão é um país oriental, mas e o Brasil, é ocidental?



Durante a minha formação escolar, aprendi que quando se falava em ocidente e oriente, o mundo seria dividido em duas partes a partir do Meridiano de Greenwhich, leste/oriente e oeste/ocidente. Seguindo esta linha de pensamento, o Brasil seria então parte do ocidente e consequentemente sua civilização seria considerada ocidental. Termos como "Oriente Médio" e "Extremo Oriente" fariam então muito sentido. Fácil e prático. 

O Japão, localizado no extremo oriente, seria então considerado parte do oriente, e sua civilização oriental. 

Sem problemas até aqui.

Representação gráfica da divisão do mundo em dois hemisférios


Conforme fui crescendo e entrando em contato com mais fontes de informação, me deparei com textos e pessoas que falavam sobre o "choque entre a civilização ocidental e os indígenas americanos", o que simplesmente não faz sentido de acordo com a definição de ocidente e oriente que acabei de apresentar aqui.

Depois de um tempo ficou claro na minha cabeça que ocidente equivale a Europa e países que foram ou ainda são colônias européias. Mesmo estando mais a oeste que a Europa, as civilizações e culturas ameríndias não são consideradas civilizações ocidentais.

Apesar das óbvias inconsistências aqui e ali, sempre me considerei e considerei o Brasil ocidental, assim como muitos outros brasileiros.  

Porém, numa dessas muitas conversas que ocorrem entre estrangeiros e locais (japoneses), discutíamos os grandes clichés das diferenças culturais. Durante a conversa, um japonês explicou como algumas coisas funcionam no Japão e no Leste Asiático, e perguntou como é nos países ocidentais ("western countries"). Após alguns europeus se juntarem e explicarem como essas coisas funcionam na Europa, jogaram a pergunta para mim - como é no Brasil?
Eu respondi que era do mesmo jeito que na Europa.
Todos absorveram com naturalidade.
Acrescentei que isso acontece porque o Brasil também é parte do ocidente.
Todos me olharam surpresos, até que uma européia comentou - É. Mas não conta.
A conversa continuou naturalmente.
Fiquei bastante intrigado e resolvi ler mais sobre isso.

São Paulo, cidade que cresceu nos moldes das metropoles estadunidenses. Ocidental ou não?

Pois é, talvez por nunca ter parado para pensar nisso, ou ter conversado com alguém sobre, eu nunca tenha reparado, mas no senso comum europeu, norte americano, e de alguns outros lugares do mundo, o Brasil não faz parte do "mundo ocidental". Quando se escreve "western" em inglês, não se encontram muitas relações diretas com o Brasil ou com a América Latina, muito pelo contrário.

No meio jornalístico isso é bem claro, a gente vê o título sutil " doadores ocidentais poderiam aprender com o Brasil..." no britânico The Guardian; ou o contraste entre os BRICS, grupo do qual o Brasil faz parte, e o ocidente no Reuters; no The Economist que diz que "outros países não ocidentais, do Brasil à Turquia, da Índia à Malásia, estão seguindo a liderança da China".

Samuel P. Huntington, em seu livro "Choque de Civilizações" divide o mundo em civilizações, como "civilização subsaariana", "civilização islâmica" e "civilização ocidental". O Brasil faz parte da "civilização latinoamericana".

Mundo ocidental, no senso comum norte americano, europeu e japonês, são os países da Europa (exceto o leste europeu), Estados Unidos da América, Canada, Austrália e Nova Zelândia.
Em japonês se utiliza a palavra 欧米(oubei) para designar estes países. 欧 (ou) significa Europa, e 米 (bei) América, aqui entendida apenas como EUA. ou seja, 欧米人 (oubeijin) se refere às pessoas da Europa e dos EUA. Muitas vezes as antigas colônias britânicas também são incluídas.

Apesar de não haver um consenso sobre o porquê disso, o que parece ser considerado é o fato desses países chamados ocidentais serem industrializados, ricos, com maioria da população branca e cristã, e terem como maior influência a "cultura européia". Ou seja, a ideia não é a posição geográfica dos países, mas sim suas características políticas, culturais e econômicas.

Por esses critérios, alguns países da América Latina como a Argentina e o Uruguai, ou a região sul do Brasil, poderiam ser considerados tão ocidentais quanto a Austrália. Não é preciso pensar muito para chegar nessa conclusão.  Porém, pouca gente fora da América Latina conhece o Cone Sul.

No senso comum das pessoas que se consideram ocidentais, nenhuma parte da América Latina é parte do ocidente. Claro que muita gente discorda disso, existem alguns posts de gente indignada com isso (ex: aqui, aqui, e aqui). 

O principal contra argumento é que a America Latina, onde o Brasil está incluído, foi colonizada por europeus, recebeu muitos imigrantes europeus, fala idiomas europeus, e emula a civilização européia em praticamente todas as esferas. Por exemplo, a produção acadêmica e jornalística brasileira segue o padrão europeu e não se exclui dele de forma alguma. Muitos dizem que a América Latina é "excluída" do mundo ocidental por não ser rica, por causa do sub desenvolvimento de seus países, e da aparente "vergonha do primo pobre" dos países mais ricos.

Salvador, primeira capital colonial do Brasil, possui forte influência africana. Ocidental?


Enquanto isso, outras pessoas acabam concordando que o Brasil não é parte do ocidente, apesar da forte influência européia, os nativos e os africanos também influenciaram fundamentalmente durante a formação do país. Depois vieram imigrantes não apenas da Europa, mas de muitos cantos do mundo  exercer suas influências na cultura local. Apesar de emular e copiar muito da civilização européia e estadunidense, falar uma língua européia, muito do que aconteceu e acontece no Brasil é comparável ao que aconteceu e acontece em certos lugares da África e da Ásia, que não são consideradas ocidentais em hipótese alguma. 

Pessoalmente eu acredito que classificar o Brasil como país ocidental e incluí-lo no mesmo grupo que a Europa seria limitar a cultura brasileira a uma única matriz, o país é muito mais que a simples decorrência de uma invasão portuguesa. 

Por outro lado, também acredito que uma categoria como "ocidental", que engloba países tão distíntos e cuja definição é tão controversa que gera mais intrigas do que facilita a vida das pessoas, não deveria ser levada a sério.

E você, o que pensa a respeito?

sábado, 5 de setembro de 2015

Psicologia no Japão - Parte I - Um pouco de história

Desde que comecei a estudar Psicologia no Japão, muita gente me  pergunta como é, como funciona, o que tem de diferente,etc.
É muito difícil responder a essa pergunta já que eu não sou nenhum especialista em "História da Psicologia japonesa" ou mesmo em "Psicologia Japonesa". Porém, por estar morando no país, ter acesso à Psicologia aqui, e ser membro da Associação Japonesa de Psicologia, eu acabo por conhecer pouco sobre o assunto.

Pois bem, depois de ser perguntado várias vezes e pensar sobre isso, decidi escrever uma pequena série de posts para que as pessoas tenham ideia de como é a Psicologia no Japão.

Neste primeiro post vamos falar um pouco sobre a história da Psicologia no Japão. Nos próximos posts vamos tratar da situação atual e de questões específicas do país.

Em Japonês, Psicologia é chamada de Shinrigaku 心理学.
- "shin" ou "kokoro" pode ser traduzido como coração no sentido emotivo, espírito, alma, mente, ou algo como "centro dos pensamentos e emoções".
- "ri" pode ser traduzido como lógica, princípios, ou razão.
- "gaku" pode ser traduzido como estudo ou conhecimento.


Ou seja, psicologia em Japonês é algo como "estudo das razões da alma". Bem semelhante à etimologia da palavra "psicologia" em Português, que vem do grego ψυχή (psyché), "alma", e λογία (logos),"estudo"

Manual Japonês de Psicologia

A Psicologia chegou ao Japão no final do século 19 através de japoneses que fizeram seus doutorados nos Estados Unidos e depois, de volta ao Japão, deram início a laboratórios de psicologia experimental. Posteriormente, pesquisadores japoneses visitaram o laboratório de Wilhelm Wundt e levaram Psicologia da Gestalt ao país do sol nascente. 


As primeiras associações de Psicologia foram criadas durante os anos 1920, muitas não continuaram por falta de membros e recursos; outras continuam até hoje, como a Japanese Psychological Association (日本心理学会), criada em 1927.



O sistema educacional japonês era baseado no modelo alemão até o final da segunda guerra mundial, quando o Japão passou a adotar um modelo com base nos Estados Unidos. Muitos japoneses foram estudar psicologia nos EUA e a psicologia passou a fazer parte do currículo de educadores japoneses, da educação infantil à universidade.



A Psicologia Clínica demorou um pouco mais para chegar ao Japão, dando as caras nos anos 1950, através de psicólogos estadunidenses que foram ao Japão. Apesar de chegar a ter uma presença relevante nas Universidades e centros de pesquisa, a clínica psicológica não foi muito popular entre o público em geral no começo. A partir dos anos 90 um esforço maior em prol da popularização da psicologia clínica foi iniciado, e as associações de Psicologia têm dando continuidade a este esforço até os dias de hoje.


Edição em Espanhol de "Música" de Yukio Mishima.


Já a Psicanálise chegou no Japão oriunda da curiosidade de cientistas japoneses no começo do século 20, durante um período no qual o Japão importava muito das "ciências do ocidente".  Os trabalhos de Freud foram traduzidos para o Japonês em 15 volumes no ano de 1933.

É interessante ressaltar que o escritor Yukio Mishima tem um romance chamando Ongaku (音楽 - "música") sobre um psicanalista que trabalha em Tóquio. A obra traz várias referências a psicanalistas e psicólogos clínicos.


A Psicologia Analítica de Jung foi trazida ao Japão pelo psicólogo Hayao Kawai na segunda metade do século 20. Ele adaptou a teoria Junguiana ao país, além de introduzir a caixa de areia na terapia japonesa.


Em suma, a Psicologia chegou ao Japão junto à modernização do país no final do período Meiji e foi se integrando ao meio acadêmico do país durante os períodos seguintes, e continua se expandindo nos dias de hoje.

Por causa das óbvias diferenças entre o Japão e os Estados Unidos e países da Europa, muitos aspectos da psicologia tiveram que ser adaptados e novas teorias tiveram que ser desenvolvidas para que se compreenda devidamente as especificidades do extremo oriente. Mas esses são tópicos para a próxima parte da série "Psicologia no Japão".